Espelho, espelho meu!

9 de outubro de 2010

Destilados e calor nunca combinaram. Eu queria sentir mais frio, mas não posso. Quer dizer, lá fora venta e a temperatura beira os 13 graus o que provavelmente seria o suficiente para me apetecer. Mas eu não saio, nem quero sair pra ser sincero. Fico aqui sentado e pior, reclamando. Se a janela estivesse aberta quem sabe... Um sopro de ar gelado, um suspiro, frio... Esquece. Está fechada a maldita. Um metro de mim e eu aqui reclamando, vergonhoso isso. Ao menos a persiana está aberta e eu posso olhar enquanto escrevo alguma coisa.

Eu não contei, mas são inúmeras fatias que compõe minha vista. As opacas folhas da persiana separam meu horizonte em níveis. E são vários se espalhando da terra ao céu como simples pontos luminosos. Deixe-me explicar melhor.


Essa história me incomoda desde que eu mudei pra cá. Vista legal, mar, brisa, túnel, morro, árvores e casas. Perfeito, a noite é claro. Cada ponto de luz perdido na escuridão esconde uma história, sofrimentos, pobreza, lutas e tantas outras coisas inimagináveis. De dia tudo é mais feio e triste, cruel pra não se dizer. Talvez por ser assim tão fosco, pessoas – incluindo-me – passem ao lado todos os dias, no pé do morro, sem ao menos reparar em como as coisas mudam. Seriamos o próximo Rio de Janeiro? Espero que não. Mas a realidade é dura, e a cada dia a pessoas parecem buscar ficar mais próximas Dele, seja por oração ou mesmo por aproximação física. O morro vai sendo escalado, dia a dia.

A vista legal eles também tem e nem ao menos precisam morar no sexto andar para isso, mas também, em contrapartida, eu tenho elevador e eles nem sempre tem escadas. Eu tenho internet, computador, cama cara, sofá macio e tantas outras coisas. Se eles têm eu não sei mesmo. Será que em algum daqueles pontos alguém olha pra cá e pensa nas mesmas coisas que eu? Essa hipótese me deixa perdido enquanto escrevo. Provavelmente lá o frio não é opção e a fresta na parede não pode ser fechada com pensamentos.  Mundos parecidos, apenas. Pesos e medidas que nunca irão bater.


Espelho, espelho meu!



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